O que deves saber sobre a diferença entre lucro e dinheiro em caixa
É comum muitos empreendedores desconhecerem a diferença entre lucro e dinheiro em caixa. Afinal, como é possível que uma empresa lucrativa feche devido a problemas financeiros por falta de liquidez para cumprir as suas obrigações? De facto, é bem possível, e é isso que pretendemos explicar neste artigo, pois compreender estas diferenças poderá ajudar-te a fazeres uma melhor gestão dos teus recursos financeiros.
Diferença entre lucro e dinheiro em caixa
Faria todo o sentido pensar que o lucro não é nada mais do que a diferença entre o que recebemos e o que pagamos num determinado momento.
Contudo, se assim fosse, não bastaria apenas consultares o saldo da conta bancária da tua empresa para perceberes se ela é lucrativa? A resposta é não, porque a realidade não é assim tão simples.
Na verdade, o lucro é a diferença entre os rendimentos e os gastos ocorridos para obter esse rendimento num determinado período, sendo que obter um rendimento não significa que já recebi, da mesma maneira que ter um gasto não significa que já houve um pagamento.
Já o dinheiro em caixa, está relacionado com os fluxos financeiros, ou seja, com as entradas e saídas de dinheiro num determinado momento. Portanto, é o dinheiro em caixa que me permite saber qual a verba disponível na minha conta bancária para fazer face aos meus compromissos.
Parece confuso? Vamos simplificar.
O resultado: lucro ou prejuízo
Como já foi referido, tanto o lucro como o prejuízo resultam da diferença entre os rendimentos e os gastos num determinado momento. Portanto, falamos em lucro quando há mais rendimentos do que gastos, e falamos em prejuízo quando os gastos superam os rendimentos.
À primeira vista, pode parecer que o rendimento equivale ao dinheiro que recebemos, mas, atenção, porque não é necessariamente assim.
Os rendimentos ocorrem quando colocamos os bens à disposição do cliente, ou quando o serviço é prestado. Porquê? Porque é nesse momento que adquirimos o direito de receber o respetivo montante. Ou seja, o rendimento corresponde ao direito de recebermos uma determinada quantia e acontece no momento da emissão de uma fatura. Porém, não significa que o valor da venda seja recebido nesse momento.
Por outro lado, para que o cálculo do lucro faça sentido, é necessário que os gastos considerados no cálculo estejam relacionados com os rendimentos obtidos, pois o que se pretende saber é se os produtos vendidos ou os serviços prestados são lucrativos para a empresa.
Para que possas compreender melhor o que está aqui em causa, olhemos para o seguinte exemplo: imagina que tens uma empresa de venda de mercadorias. É certo que terás de ter as mercadorias disponíveis para venda, o que significa que terás de ter stock e, portanto, terás de ter um fornecedor. No entanto, o pagamento ao fornecedor não ocorre no mesmo momento em que vendes a mercadoria ao cliente.
É por esta razão que para conseguires determinar a tua margem de lucro, apenas deverás considerar o custo da mercadoria à medida que vais vendendo o produto. Assim, vais registar os gastos na proporção das unidades vendidas. Porquê? Porque o que pretendes saber é o lucro que esses bens estão a gerar. Logo, comparar recebimentos de clientes com pagamentos efetuados a fornecedores num determinado momento será o mesmo que comparar alhos com bugalhos.
Além disso, há outro tipo de gastos que influenciam o cálculo do lucro de uma forma faseada ao longo do tempo: os investimentos.
Quando fazes um investimento de grande montante, por exemplo, num programa de marketing para o lançamento de um novo serviço, não deves registar o gasto total no momento do pagamento, isto é, antes dos resultados dessa campanha começarem a trazer retorno para a empresa. Fazê-lo iria distorcer a tua perceção sobre os resultados obtidos, parecendo que haveria um mês particularmente menos rentável do que os outros.
Em vez disso, deves calcular a vida útil do projeto em que estás a investir. Ou seja, neste caso, a vida útil do projeto seria o tempo esperado até a campanha de lançamento trazer retorno para a empresa. Sabendo isto, o custo do investimento seria registado proporcionalmente ao ritmo de faturação.
Este princípio faz com que o lucro seja a nossa melhor estimativa sobre a realidade financeira e económica da empresa, pois o seu cálculo pressupõe um conjunto de suposições que podemos ter de levar em conta para avaliar, de uma forma mais apropriada, a relação entre os gastos e os rendimentos da atividade. Na ausência de uma bola de cristal que nos diga exatamente o que vai acontecer, apenas podemos estabelecer critérios razoáveis para garantir uma maior fiabilidade aos nossos cálculos.
A demonstração financeira que detalha o lucro, e como ele foi obtido, é a demonstração de rendimentos, que é uma ferramenta bastante usada pelos órgãos de gestão.
Contudo, uma empresa não vive só do lucro. Pode até ter lucro, mas se não conseguir materializá-lo em dinheiro, irá certamente ter de fechar portas. Por isso, é essencial que acompanhe de perto os seus fluxos de tesouraria e assegure a manutenção do negócio.
Os fluxos de caixa
Os fluxos de caixa, por sua vez, são mais transparentes e diretos. Afinal, neste caso, estamos perante entradas e saídas de dinheiro que podem, facilmente, ser comprovadas através de um extrato bancário.
Uma das práticas comuns nas empresas, que acentua a diferença entre o lucro e o dinheiro em caixa, é negociar prazos de pagamento de 30 ou 60 dias com clientes e fornecedores.
No entanto, ao fazê-lo, é essencial que a empresa encontre o modelo mais adequado e ajustado ao seu negócio, de forma a garantir a sua sustentabilidade financeira, porque, no fim de contas, o dinheiro é que manda.
Convém não esquecer que é o dinheiro que mantém a empresa a funcionar. É ele que te vai permitir pagar a fornecedores, colaboradores e a outras entidades que mantêm a produção da tua empresa e, como sabemos, sem produção não há vendas e sem vendas não há rendimento e, sem uma coisa nem outra, a máquina vê-se forçada a parar.
Compreender isto é essencial, uma vez que é precisamente quando existe dificuldade em cobrar as vendas ou a prestação de serviços aos clientes que os problemas começam a surgir. Por outras palavras, quando uma empresa tem dificuldade em converter o rendimento que obtém em dinheiro, começa a enfrentar problemas de liquidez, o que pode comprometer o seu futuro.
Para evitares esta situação, há um conjunto de procedimentos que deverás seguir. Assim, deves:
- criar políticas de crédito transparentes;
- acompanhar de perto as cobranças;
- fazer uma previsão de fluxos de tesouraria;
- saber exatamente quando vencem as faturas dos fornecedores;
- saber exatamente quando vais receber dos teus clientes;
- estar informado sobre os impostos a pagar;
- registar com rigor o valor dos salários a pagar.
Cumprir estes procedimentos vai-te permitir prever, com rigor e à semana, os teus compromissos, o que te permitirá saber qual o fundo de maneio que deves manter no banco para que a atividade da empresa flua sem problemas.
Impactos da diferença entre lucro e dinheiro em caixa
Isto quer dizer que o simples facto de uma empresa ser lucrativa não significa que não enfrente problemas financeiros. Ou seja, para se perceber a real situação da empresa, é necessário olhar para estes dois valores – lucro e dinheiro em caixa.
Uma empresa que tenha prejuízo, mas que mantenha uma liquidez que lhe permita ir pagando os seus compromissos consegue manter-se ativa por mais tempo do que uma empresa lucrativa que não consegue converter os rendimentos em dinheiro.
Dito de outra forma, uma empresa com prejuízo, mas com dinheiro em caixa, consegue ganhar algum tempo para dar a volta e voltar a ser rentável, no entanto é preciso ter em conta que se levar muito tempo para inverter esta tendência, é inevitável que acabe por encerrar.
Já uma empresa lucrativa que tenha um problema de cobranças poderá ter de fechar mais rapidamente, por falta de dinheiro para manter a sua atividade.
No caso de pequenos negócios, é normal que a diferença entre o lucro e o dinheiro em caixa seja quase residual. Contudo, à medida que o negócio se vai expandindo e a empresa vai crescendo, é imprescindível acompanhar estes dois valores de perto.
Em síntese, deves estar consciente de que ambos os conceitos são necessários e trazem informações relevantes para a gestão do teu negócio e, por isso, é imprescindível compreenderes a diferença entre lucro e dinheiro em caixa, para poderes atuar de forma eficaz, com base em tomadas de decisão bem informadas.
Faz uma previsão dos teus fluxos de caixa, analisa a rentabilidade e mantem a tua empresa sustentável e, financeiramente, saudável.
Podes também consultar o seguinte link com informação mais detalhada sobre este tema:
Vê também o artigo A relação entre tempo e dinheiro que o empreendedor deve saber.
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Sempre grata,
Liliana Contreiras
#contabilistadoempreendedor